O Espaço ... ( do homem ) ?






O exame do que significa o espaço habitado, nos dias de hoje, deixa entrever, claramente, que atingimos uma situação limite, além da qual o processo destrutivo da espécie humana pode tornar-se irreversível.




O espaço habitado se tornou um meio geográfico completamente diverso do que foi na aurora dos tempos históricos. Não pode ser comparado, qualitativa ou estruturalmente, ao espaço do homem anterior à revolução industrial. A articulação tradicional, histórica, das comunidades com seu quadro orgânico natural, foi substituída por uma vasta anarquia mercantil.

O fenômeno se agrava a medida em que o uso do solo se torna especulativo e a determinação de seu valor vem de uma luta sem trégua entre diversos tipos de capital que ocupam a cidade e o campo. Os efeitos diretos ou indiretos dessa nova composição atingem a totalidade da espécie. O homem se utiliza do saber científico e das invenções tecnológicas sem aquele senso de medida que caracterizava suas primeiras relações com o entorno natural. O resultado, estamos vendo, é caótico.

Agrocombustíveis e Custo Social



Fora o xadrez geopolítico, o custo social e ambiental da expansão da monocultura de cana-de-açúcar, algo que, aliás, remete ao processo colonizatório do país, trará imenso impacto ambiental. Estão previstas dezenas de usinas, com destaque para a porção Oeste do Estado de São Paulo e, especialmente no Pontal do Paranapanema, onde as terras são baratas pelo fato de serem griladas. A reforma agrária não anda, mas a desapropriação e repasse de terras como “empréstimo” para a produção de cana em larga escala, por produtores estrangeiros, essa sim, já está sendo negociada. A própria transposição do rio São Francisco atende a esses interesses, o que se está querendo fazer ali, indo à forra com estudos de impactos ambientais, não é levar água ao povo da região, e sim favorecer a agroindústria que os expulsa do campo e os transformam em meros empregados numa condição semi-escravagista.
Os impactos ao meio ambiente estão sendo ignorados pelos que defendem a substituição do peltróleo pelo álcool combustível como medida para reduzir o aquecimento global. Um dos processos de produção mais comuns é a queima da palha do canavial, para facilitar o corte manual e aumentar a produtividade do cortador de cana. Essa prática reduz custos de transporte e aumenta a eficiência das moendas nas usinas. No entanto, a queima libera gás carbônico, ozônio, gases de nitrogênio e de enxofre (responsáveis pelas chuvas ácidas) e provoca perdas significativas de nutrientes para as plantas, além de facilitar o aparecimento de ervas daninhas e a erosão. Como opção às queimadas, que são responsáveis por boa parte das mortes dos cortadores por meio da inalação de gases cancerígenos, a mecanização pode ser extremamente prejudicial ao solo, pois o comprime, não permitindo a entrada de oxigênio. Os efluentes do processo industrial da cana-de-açúcar também prejudicam a natureza. Sem o devido tratamento, os dejetos lançados nos rios comprometem a sobrevivência de diversos seres aquáticos.
O capitalismo atual necessita da região periférica, pobre, para sustentar o luxo dos países ricos, o que nos remete ao processo neo-colonialista. O Brasil já foi uma república de bananas, de borracha, de café, de cacau etc. A política de produção aqui segue as diretrizes “ditadas” pelos grandes países ricos, assim, a produção do “espaço geográfico” é apenas derivada da demanda internacional, não somos soberanos, não produzimos nosso espaço, ele não reflete o que somos, apenas servimos como o “quintal do mundo”. Esse modelo de desenvolvimento acarreta ainda problemas sociais graves, desigualdades, e gera populações “flutuantes” que migram dentro do próprio país à procura de trabalho temporário em plantações, destrói o vínculo nobre do Homem com o solo onde vive, gera violência, falta de cultura e educação. É antes de tudo um problema sistêmico, advindo do capitalismo, que prega a “sociedade de consumo” e sua voracidade crescente por energia.






Geografia.

Hoje, vivemos nosso tempo de forma caótica. As ansiedades, angústias, frustrações e todas as demais manifestações psiquicas consistem no cotidiano do cidadão.
Violentado, massificado e martirizado, o habitante da cidade sofre, atônito e indefeso, o assédio continuado das forças liberadas, que atualmente, não consegue mantê-lo a salvo de si mesmo. Todo o progresso tecnológico, produto do desenvolvimento intelectual do homem em seus diversos estágios evolutivos, para dominar e controlar os elementos naturais afim de garantir sua sobrevivência, subsistência, convivência, não tem conseguido conduzir o próprio homem à sua meta desejada.
O acervo cultural e técnico à disposição do homem atual, por mais contraditório que pareça, não está favorecendo a conquista dos padrões desejados de vida, pois o citadino moderno vive pior com sua parafernália tecnológica do que viviam seus antepassados. sem ela.
É a cidade, extensão da sociedade, o laboratório e repositório de todas as experiências, boas e más, estas com maior frequência, realizadas pelo homem em seus ajustamentos sociais e culturais. As cidades surgiram como consequ~encia do exesso de produção que determinou a estocagem, e daí, a guarda, a propriedade, a riqueza, o poder, as classes sociais, a injustça social e suas decorrentes lutas de classes, em que os interesses individuais sobrepõem-se aos interesses coletivos.

pequena Antologia Poética

Bem, primeiro havia
crianças e mulheres
que obedeciam à lua.

E depois o homem;

essa platonicidade
plástica.
essa passionalidade
trágica.
gélida,
frio néon,
noite quente,
tremo de frio.
(ou medo)
que batas em minha porta,
essa personalidade
pálida.
essa dualidade
cósmica.
essa fatalidade
mórbida.
(dê me mais um cálice)
e jogarei na fogueira,
mais algumas
palavras.
ou grandes personalidades
pálidas.
e também felicidades
rápidas.
Tremo de frio.
(ou medos)

quero preencher os dias
vazios.
quero esvaziar os dias
cheios.
(de segredos)

faça-me ao menos uma promessa:
nunca mais bata á minha porta,
pois ainda vivem comigo,
segredos
não
revelados
e passionalidades
não afloradas.
mundo estranho,
janelas embaçadas.
lembranças
empedradas.
chuva caindo,
o rádio nunca toca
nossas músicas,
nem as minhas.
medo do xxxxxx,
de tocar tua mão e da guerra que se aproxima.
quanto a nós
a oposição
traz a concórdia da
discórdia
da guerra
psíquica
talvez antes mesmo
de nossas vidas aqui
nós em cristais
em pó de estrelas
nos encontrávamos pelo pluriverso
e nos beijávamos
e ríamos
como crianças loucas
confundidos hoje que estamos
quase não nos encontramos
são muitos desejos
no girar da engrenagens
da noite
pessoas montam seus exércitos
defendem seu território
num competir
incompetente
aos insurgentes
a solidão dos bares
dos lobos
dos bosques
dos temperos do riso
e da saudade presente
passeios nocturnos
contemplações celestes
muito pouca
ou nenhuma
ação / reação

o rádio soava
sons sublimes
como nosso indefinido desejo
e no mundo
caos instalado
plugado
nostalgia
das tardes de sol lavado
do palhaço desajeitado
do teu amor descuidado
parto então
muito desconfiado
de estar sendo enganado
e não amado
sob a cachoeira
onde se escondem cristais
a única tormenta é a água
nos sentimos ali seguros
como crianças em seus esconderijos
quem poderia então dizer
que acaba aqui

estamos mesmo que
em tempo lento
morrendo

antes
até do mato
num tempo remoto
que energias se arriscavam por aqui?
talvez a tua e a minha se ocupavam daqui?
deste lugar numa massa fundida
deste luar que ainda não existia

antes que o concreto tome conta de tudo
deixem – me dizer/escrever
o que está além de palavras
ou ordens estéticas

o futuro tem
que se livrar do passado
tem que ter a liberdade de ser novo
de ser não arquitetado
de ser sonhado

explorar
toda imensidão de coisas inexploradas
não ocorridas
uma pincelada no vazio plano em descoberto
novos matizes para um velho sonho perto
um novo despertar com planos de descobrir
novas ondas que ainda estão por vir



entre tu e eu

todo o universo de coisas paradas
colocadas
essas esquinas de curvas traçadas
planejadas
e nada de saídas desenhadas
implantadas
a distância faz o tempo
o resultado
não podemos ver
ou ouvir
ou tocar
ser



a imperfeição de alguns fatos
em um momento exato
um extrapolar sentidos
energizado



já pensei em fugir
umas três vezes
na quarta fugí das três
vejo a dualidade do mundo
da minha janela
usando algumas passagens secretas
nada de regras
nada de meias-tintas
recorto o todo
dobro
guardo

a cidade é uma grade
de convergência
de energias instáveis
uma combustão espontânea
de todo combustível
pontos de luz
num competir imcompetente
contra o céu reluzente
novos formatos de sombra
configurada
cortada
sinal dos tempos
ou fato corriqueiro


quem dera te encontrar
na exatidão de uma coordenada linear
te dar um beijo
um banho de cachueira
e te fazer ficar
numa fusão anímica
reduzir-se ao pó
ou irradiar
um instinto animal

nós criamos a manhã
o trabalho
o estudo


é preciso mapear
mas é vital
e não se perder
no jogo sujo do negócio


Gustavo Martell ©®2007